sábado, 27 de setembro de 2008

Grande escritor

Uma vírgula pequena no canto da boca, que o escritor esqueceu de pôr e quando viu tava mastigando ela, tempão. Aquela vírgula de dizer a hesitação, a tentativa de não saber pra poder entender melhor. A vírgula de ser inacabado, como o horizonte. Um fã da Clarice lhe disse que a amava com mudo fervor, ao que ela lhe respondeu que todo fervor é mudo.

Como não ter ordem pra escrever um texto, encontrar a vírgula ao dobrar a esquina e ficar olhando, olhando, a quebra que ela faz no que já não está inteiro. Como as ruas vazias, becos, aquilo do que não está escrito. Não no papel, mas se vê impresso na pele do mundo, por todos os cantos. Cantos da boca, em que o escritor mastiga a vírgula.

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